
Title | : | O Livro do Deslembramento |
Author | : | |
Rating | : | |
ISBN | : | 9722130358 |
ISBN-10 | : | 9789722130356 |
Language | : | Portuguese |
Format Type | : | Paperback |
Number of Pages | : | 208 |
Publication | : | First published January 1, 2020 |
E as histórias seguem-se, numa estudada circularidade, até à última página. Mas aqui chegados tudo muda. Aquele mundo, vivido como uma história de encantar, tem debaixo de si um vulcão prestes a explodir.
"O Livro do Deslembramento" é certamente uma das mais belas obras de autoficção da literatura em língua portuguesa. E Ondjaki, neste ano de 2020 em que passam precisamente vinte anos sobre a publicação do seu primeiro livro, dá-nos agora um dos seus melhores romances.
O Livro do Deslembramento Reviews
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Ondjaki é um contador de estórias cativante. Gosto de o ouvir falar. Gosto de o ler. Gosto de o ler em voz alta para melhor captar a harmonia e a poesia das suas palavras.
Neste último romance auto ficcional, ele dá voz a uma criança angolana, que vive em Luanda. Numa Luanda ainda assolada pela guerra, onde ainda impera o medo “a cidade andava cheia de silêncios” (p.228). Porém, a narrativa centra-se em grande parte numa época de paz e só no final assistimos ao reacender da guerra civil.
É então pelas lembranças e pelo olhar de Ndalu (Ndalinho) que vamos conhecendo as suas estórias e a dos camaradas adultos (família, amigos e vizinhos). São páginas de puro encanto, de sensibilidade e boa disposição. Nem tudo é verdade, mas parece que é de tão bom o registo que enleva o leitor. Mas isso não tem importância e o leitor foi informado, logo na página 16, que “em Luanda, cadavez uma pessoa não sabe passar um dia só sem inventar uma estória”
E as estórias verdadeiras ou inventadas são maravilhosas, e como "às vezes aqui quando te dizem uma coisa, é mais fácil só acreditar, duvidar dá muito trabalho e ainda traz discussões que não levam a lado nenhum” (p. 56), então deixemo-nos embalar pelas lembranças e pensamentos de Ndalinho e pelas palavras poéticas de Ondjaki.
“ gosto dessa hora de muito cedo, parece que a cabeça também fica mais limpa, com bom espaço para pensamentos
as coisas que chegam dos sonhos, os restos da noite, misturam-se com todas essas coisas frescas que penso de manhã, penso sozinho: penso de lembrar, penso de imaginar e penso ainda de misturar com todos os barulhos e as coisas que tenho de imaginar que estão a acontecer nas outras casas, nos outros quintais, depois, se a pessoa deixar os olhos fecharem, quase que recomeça a sonhar…” (p. 104)
e ainda
“ eu a olhar o olhar da tia Tó toda orgulhosa, como ela dizia, da minha língua portuguesa, ás vezes ela perguntava-me onde é que eu ia buscar tantas ideias, se eram de verdade ou inventadas, eu tinha de lhe explicar outra e outra vez que em Angola não era preciso inventar nada, ou a cidade te dava as estórias, ou a rua, ou a escola ou então havia sempre uma caixa cheia de estórias em cada família” (p.226)
É verdade, Ondjaki tem uma enorme caixa cheia de belas estórias que tão bem sabe partilhar com os seus leitores.
Recomendo muito este livro, ou qualquer um do autor. Este foi publicado em 2020 para assinalar os 20 anos de carreira literária. -
adorei. a simplicidade do pensamento, a forma inocente como descreve, aos olhos do seu eu em criança, tudo desde a maior banalidade a acontecimentos únicos como o início da guerra. ri muito com este livro, às vezes tive de parar por momentos porque não conseguia parar de rir, mas também tive momentos de aflição. consegui sempre sentir aquilo que o autor sentia e acho que isso é especial. a leitura é fácil e cativante e apesar de não ser o melhor livro e a melhor escrita, é um livro bonito e que recomendo.
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A história deste livro decorre em Luanda, num período em que guerra civil parece ter chegado ao fim, onde tudo parecia correr bem e a guerra estava "lá longe".
Luanda e os seus contornos é-nos apresentada pelos olhos de uma criança, um menino, que faz com tudo pareça um sonho e uma fantasia. Mas é esta criança que nos agarra à história e que nos faz querer saber mais sobre a sua vida. Senti uma grande ligação, consegui sentir um pouco (porque só quem viveu é que sabe mesmo) do que foi viver naquela época e como viver da forma mais simples pode trazer felicidade a qualquer um de nós. As descrições dos locais e situações são tão ricas em pormenores que me fez sentir perto, fez-me sentir que conhecia estas famílias. Estes pormenores tornaram a leitura mais familiar.
Este livro fez-me rir, fez-me chorar, fez-me sentir uma grande angústia, mas o mais importante é que me tocou. Leiam este livro!!
O tipo de linguagem aqui utilizada também me cativou muito, é uma linguagem informal que nos deixa entrar nas memórias daquela época.
Foi o primeiro livro que li deste autor e, certamente, não será o último. Sou uma pessoa que se repete muito e, como já referi (muitas vezes), livros que trabalham a memória fascinam-me, "(...) porque nisso das estórias os mais velhos são muito diferentes das crianças (...) quando contam uma estória e mais alguém se lembra, eles passam muito tempo a tentar decidir quem contou a versão mais correta (...) nós as crianças (...) admitimos mesmo que todo o mundo se lembre da maneira que ele lembrar (...)" (171) -
Genuíno, envolvente e belo. Foi o primeiro que li do Ondjaki. Vou querer ler todos!
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Li-o de costas voltadas à parede que dá para o bairro onde cresci e ao qual regressei dez anos depois da última vez. Deslembrei-me da maioria das estórias que passei ali em baixo, mas, se as pudesse relembrar, que fosse assim.
"nós, as crianças, nessa missão de lembrar, contar e aumentar, somos mesmo os melhores, ninguém nos aguenta, porque admitimos mesmo que todo mundo se lembre da maneira que ele lembra.
(...)
e esse, para dizer a verdade, é o erro dos mais-velhos
pensarem que toda a gente tem que lembrar a mesma coisa ou de nem deixarem que cada um, a partir daquele momento mesmo, possa lembrar as coisas mesmo já a contar com as lembranças dos outros"
"às vezes perguntava-me onde é que eu ia buscar tantas ideias, se era verdade ou inventadas, eu tinha de lhe explicar outra e outra vez que em Angola não era preciso inventar nada, ou a cidade te dava as estórias, ou a rua, ou a escola ou então havia sempre uma caixa cheia de estórias na família
(...)
em Angola essa caixa de estórias era guardada por uma avó, na nossa família, por acaso, até havia mais do que uma caixa" -
4,5...🥭🍻
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Estou cada vez mais fascinada pelo Ondjaki e a sua escrita maravilhosa.
É só o segundo livro que leio da sua obra publicada mas já decidi - tenho que lê-los a todos imediatamente.
Este livro tem um registo muito diferente dos Transparentes, mais nostálgico e leve, muito divertido e cheio de emoções. E tem tantos momentos de pequenas sabedorias, de frases lindas e que traduzem o que sentimos melhor do que ninguém.
Confesso que este livro também me fez recordar o Zezé, do meu pé de laranja lima. De uma ternura estonteante...
a avó Nhé e' que tinha razão: contar.
o mais importante era contar.
e o tio Victor também: viver. o importante era viver,
e rir: que era viver de novo. -
O livro e a história não são maus, e têm laivos daquela maneira melosa que o Ondjaki tem de escrever. Ainda assim, quando comparado com outra das suas obras, esta parece um tanto desconexa e as personagens não são tão cativantes. É um livro que se lê bem, tem momentos bem interessantes, principalmente no final, mas não me encantou como os outros livros dele o fizeram.
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Gostei muito da forma como senti através da sua escrita a memória do passado, pormenorizada nos sons e nos cheiros, é encantador.
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"O barulho de uma rede a ser amarrada entre duas árvores é da pessoa que quer ficar deitada um monte de tempo sem fazer nada"
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Repetindo a fórmula de alguns dos seus anteriores romances – de “Bom dia Camaradas” ou “Quantas Madrugadas Tem a Noite” a “A Avó Dezanove e o Segredo do Soviético” –, é aos lugares felizes da infância que Ondjaki vai buscar as estórias que alimentam este livro. Cobertos com a patine da ficção, estes “deslembramentos” são páginas de vida onde cabem Ndalu de Almeida, mais conhecido por Ondjaki, e todos aqueles que acrescentaram, das mais variadas formas, o conhecimento e as influências às suas brincadeiras e risos de menino.
No seu jeito próprio de contar, Ondjaki relata as aventuras e os enredos que marcaram a fase da aprendizagem e, em grande medida, o tornaram naquilo que é hoje, ao mesmo tempo revelando os dilemas e contradições de uma sociedade liberta do jugo do colonialismo para logo mergulhar numa Guerra Civil fratricida. Tomando como protagonistas da acção o círculo familiar mais íntimo e os amigos chegados, o autor privilegia o diálogo em detrimento da acção, a casa como um reduto fortificado onde tudo se passa, a linguagem como arma de ataque e de defesa, repleta de variantes engenhosas e dos mais delirantes trocadilhos e subentendidos.
Os mais familiarizados com a obra de Ondjaki tenderão a relativizar o valor deste livro. Percebe-se que, em pé de igualdade com os anteriores, “O Livro do Deslembramento” sai a perder, porquanto nele sobressai muito pouco de novidade. Mas para quem só agora toma contacto com o escritor angolano, é todo um mundo novo que se abre, de cores, cheiros, sabores e emoções feito. É tempo de rir com as tiradas do tio Chico, espreitar as calças no sovaco do senhor Osório e escutar o ronco da mulher do Mogofores. De sentar a uma mesa onde há sempre comida para mais um, assistir a mais um episódio do Roque Santeiro e beber uma cerveja bem gelada. Tempo de celebrar a língua portuguesa, o mais elevado valor da lusofonia, no que ela tem de diversidade, plasticidade e multiculturalismo. -
Participei num workshop do Ondjaki, mantendo como um segredo inconfessável que nunca o tinha lido...
Gostei muito do workshop, agradável, criativa e prazerosamente pouco organizado. Gostei tanto que peguei no primeiro livro que me apareceu. Gostei muito. Há uma leveza, uma frescura que são muito cativantes.
Muito recomendável. -
Um livro muito bonito, como todos do Ondjaki. Uma prosa linda e luminosa, que se saboreia a ler. O mundo puro da infância, cheio de beleza e ritmo. Ondjaki é sempre um bálsamo, uma leitura cristalina que nunca falha.
A estrela a menos, digamos, tem que ver com a estrutura do livro e o prometido estilo romance.
Um livro muito bonito. -
Demorou a entrar plenamente no ritmo deste romance, que mais não é do que um conjunto de memórias da infância do autor. Mas é um registo tão bonito, escrito na perspetiva inocente, curiosa e perspicaz de uma criança. Que bom seria se preservassemos as nossas memórias, mesmo as mais simples, desta maneira.
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Um livro incrível, oferece-nos uma perspetiva direta e objetivs dos acontecimentos de Luanda que, de outra forma, poderia nunca chegar a sequer ouvir falar. O estlo de escrita é único e característico e torna o livro especial.
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You can't put it down.